Quando se fala releitura de mundo, se pensa em um questionamento das coisas externas, do que influencia o ser humano de fora para dentro. Movimentos de massa, correntes ideológicas, revoluções, modas, psicologias, etc. Mas, dentro desse mesmo mundo, tem corações, tem coisas pequenas, internas, subjetivas, que são tão importantes quanto as visíveis. Entretanto, nosso olho humano é mal treinado para vê-las. Uma miopia coletiva.
Em uma entrevista de emprego, o que era importante era quantos filmes vi, quantos livros li, quantas línguas falava, quantas teorias sabia. Quão cult eu era. Aí me perguntei o quanto isso era realmente importante para o trabalho que ia fazer. Era um trabalho local, em que mais valia ser alguém ligado nas necessidades humanas e conhecedores das dores da comunidade dali, do que qualquer outra coisa. Não me perguntaram se dava bom dia quando chegava do trabalho, se sabia trabalhar em grupo, participar e me comprometer. Não me perguntaram se era pronta para ajudar os colegas, se sabia lidar com a competitividade ou o que eu podia contribuir para um serviço melhor. Não seriam essas coisas que realmente fazem a diferença em um ambiente de trabalho? Enfim...
"Deixei minha família por essa oportunidade em outra cidade, precisava desse desafio", diz mãe de filho de dois anos. Nossa, que corajosa, essa sim tem foco, sabe aonde quer chegar. "Larguei o trabalho para cuidar melhor dos meus filhos", diz mãe de filha de seis. Essa quer viver às custas do marido, que preguiçosa, retrocedeu. Como a gente não consegue dimensionar e valorizar o cuidado humano. Somos muito práticos, objetivos, queremos resultados, números. Vivemos em tempos em que "imediato" e "instantâneo" são as qualidades dos outdoors. Esse cuidado humano não dá resultados assim. Não se traduz em números, por isso, aos nossos olhos, perde valor. Demora, é uma gotinha de cada vez, é a construção de um ambiente invisível, que só com óculos muito especiais se consegue ver. Mas que faz uma diferença, ah, que diferença...
São surpresas, dedicações, cuidados, que fazem o ser humano se sentir amado. "Ai, não precisa". Precisa sim. Se não precisasse Jesus não ia se preocupar em dar vinho a uma festa como o seu primeiro milagre, com tanta coisa para fazer.
Dizem que o amor mantem o relacionamento. Mas ouvi diferente, e acho que tá mais certo: o relacionamento mantem o amor. É a forma que tratamos as pessoas que alimenta o que sentimos umas pelas outras. Não é mágica, é cuidado humano. É um esforço para arrancar uma risada. É uma corrida para achar tempo para ouvir uma pessoa. É se preocupar com o que a pessoa precisaria, mesmo ela não pedindo. É acordar mais cedo para esquentar o café e dormir mais tarde para lavar a louça. É tentar se colocar no lugar do outro, mesmo sendo difícil e exigindo que saia da zona de conforto. É, às vezes, largar de ter a razão - mesmo tendo - para ter a paz.
Porém, não dá para atirar em todas as direções. Comece dando Deus a quem Deus te deu. Deus só pede aquilo que Ele nos dá. Pela felicidade de quem nós somos responsáveis? Comece por aí. Comece pedindo essa nova visão, esse novo óculos.
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