segunda-feira, 15 de abril de 2013

Procura-se um novo óculos

Quando se fala releitura de mundo, se pensa em um questionamento das coisas externas, do que influencia o ser humano de fora para dentro. Movimentos de massa, correntes ideológicas, revoluções, modas, psicologias, etc. Mas, dentro desse mesmo mundo, tem corações, tem coisas pequenas, internas, subjetivas, que são tão importantes quanto as visíveis. Entretanto, nosso olho humano é mal treinado para vê-las. Uma miopia coletiva.
Em uma entrevista de emprego, o que era importante era quantos filmes vi, quantos livros li, quantas línguas falava, quantas teorias sabia. Quão cult eu era. Aí me perguntei o quanto isso era realmente importante para o trabalho que ia fazer. Era um trabalho local, em que mais valia ser alguém ligado nas necessidades humanas e conhecedores das dores da comunidade dali, do que qualquer outra coisa. Não me perguntaram se dava bom dia quando chegava do trabalho, se sabia trabalhar em grupo, participar e me comprometer. Não me perguntaram se era pronta para ajudar os colegas, se sabia lidar com a competitividade ou o que eu podia contribuir para um serviço melhor. Não seriam essas coisas que realmente fazem a diferença em um ambiente de trabalho? Enfim...
"Deixei minha família por essa oportunidade em outra cidade, precisava desse desafio", diz mãe de filho de dois anos. Nossa, que corajosa, essa sim tem foco, sabe aonde quer chegar. "Larguei o trabalho para cuidar melhor dos meus filhos", diz mãe de filha de seis. Essa quer viver às custas do marido, que preguiçosa, retrocedeu. Como a gente não consegue dimensionar e valorizar o cuidado humano. Somos muito práticos, objetivos, queremos resultados, números. Vivemos em tempos em que "imediato" e "instantâneo" são as qualidades dos outdoors. Esse cuidado humano não dá resultados assim. Não se traduz em números, por isso, aos nossos olhos, perde valor. Demora, é uma gotinha de cada vez, é a construção de um ambiente invisível, que só com óculos muito especiais se consegue ver. Mas que faz uma diferença, ah, que diferença...
São surpresas, dedicações, cuidados, que fazem o ser humano se sentir amado. "Ai, não precisa". Precisa sim. Se não precisasse Jesus não ia se preocupar em dar vinho a uma festa como o seu primeiro milagre, com tanta coisa para fazer. 
Dizem que o amor mantem o relacionamento. Mas ouvi diferente, e acho que tá mais certo: o relacionamento mantem o amor. É a forma que tratamos as pessoas que alimenta o que sentimos umas pelas outras. Não é mágica, é cuidado humano. É um esforço para arrancar uma risada. É uma corrida para achar tempo para ouvir uma pessoa. É se preocupar com o que a pessoa precisaria, mesmo ela não pedindo. É acordar mais cedo para esquentar o café e dormir mais tarde para lavar a louça. É tentar se colocar no lugar do outro, mesmo sendo difícil e exigindo que saia da zona de conforto. É, às vezes, largar de ter a razão - mesmo tendo - para ter a paz. 
Porém, não dá para atirar em todas as direções. Comece dando Deus a quem Deus te deu. Deus só pede aquilo que Ele nos dá. Pela felicidade de quem nós somos responsáveis? Comece por aí. Comece pedindo essa nova visão, esse novo óculos. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Ajude o Amor amar

Pare um pouco. Olhe para a janela, olhe para as pessoas que passam. Saia do mundo da sua cabeça. Olhe ao mundo que está ao redor de sua cabeça. O que cada uma traz consigo? Será que são as mesmas angústias e alegrias? Preocupações e objetivos? O que grita em cada uma delas? O que cada uma grita? 

A massificação trouxe a perda da identidade. E como o grito de socorro, como uma tentativa de sobrevivência de seu ser, o ser humano responde com individualismo e indiferença aos outros. O governo não consegue olhar para cada realidade, cada história, cada sonho. A mídia não consegue passar a verdade, generaliza e erra, julga com inverdades. A educação serve para igualar a todos. À quem resta olhar para cada um? À quem resta defender, acompanhar, cuidar, dignificar? O ser humano precisa ser olhado. Está no vazio dele. Está na solidão. Está no olhar que procura outro olhar.

O Amor nasceu e morreu para amar. Cada um. Cada ser. 
Pela sua vida e sua morte, o nosso viver tornou-se digno.
E tornamos sua morte vã. Seu sacrifício vão. Sua verdade vã.
Quando, cada alma, não se deixa amar. Não se ama. Não consegue ser amada. Não tem um relacionamento de amor consigo mesma.

Não dá para deixar isso acontecer. 

Pelo menos ame. Ame alguém hoje. Leve amor, de alguma forma, de algum jeito. Alivie a sensação de abandono, de solidão, de descuido, de indiferença. Perdoe, ajude, alivie a dor de alguém, dê um sentido. Dê o que você tem para dar. Para doar. Para parar de doer.

Ajude o Amor amar.





terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Coisas

Quanto mais coisas temos... Mais temos que cuidá-las, guardá-las, arrumá-las. Mais temos que procurá-las. Mais temos que achar lugar para elas. Mais coisas para guardar coisas. Mais temos coisas para combinar com coisas e usar com coisas. Mais precisamos de coisas. Mais chances de termos coisas roubadas. Mais temos coisas para perder. Mais temos contas das coisas.  Mais temos chances de ter coisas que o vizinho não tem. Mais coisas para quebrar... e para consertar. Mais temos coisas para perder tempo. Mais temos coisas para ocupar tempo.  E movidos por tantas coisas, e por ter mais coisas, o que fazemos se tornam coisas. O que produzimos se tornam coisas. O que lemos se tornam coisas. O que escrevemos se tornam coisas. Nosso conhecimento se torna coisa para fazer outras coisas. Precisamos de coisas para realizar outras coisas. E movidos por tantas coisas, e para ter mais coisas, nossos relacionamentos podem nos dar mais coisas. Eles viram coisas. Coisas para cuidar, mas para nos dar coisas. E se as coisas servem para tantas coisas... as pessoas viram coisas. Elas nos oferecem muitas coisas. E os momentos com elas se tornam coisas. E nós nos tornamos coisas. Nosso corpo torna-se uma coisa, com coisas para modificar. Mais as coisas ocupam nosso tempo. E mais precisamos das coisas para ficarmos ocupados.

Mais temos medo de ficar só com as coisas. E o medo se torna coisa que pode ir embora com outras coisas. E o que sentimos viram coisas para conseguirmos ficar bem com as coisas.



Mas as coisas são só...coisas. E quanta coisa a gente perdeu.