O Ato de Reler
João Paulo II, na sua Carta aos Artistas, coloca que ‘Nem todos são chamados a serem artistas, no sentido específico do termo. Mas, segundo a expressão do Gênesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima.’ Quando nascemos, Deus no deu o livre arbítrio de tal forma que a nossa vida é uma tela em branco na qual podemos ‘pintar’ o que quisermos. No entanto, nascemos e antes de nos darmos conta do que podemos fazer do nosso viver, o mundo já está aí, com seus traços, seus mandamentos, pronto para que seja copiado por nós em nossa tela, tornando-nos mais um copiador e promotor do mesmo estilo de vida. Só que nem tudo o que a sociedade nos coloca é o melhor para cada um, e aí que vem a diferença de copiar e de reler.
Em termos artísticos, segundo Heleny Galati * (MASP) "a diferença entre Releitura e cópia é a seguinte: na cópia você reproduz fielmente o quadro do artista. Neste caso a pessoa está apenas preocupada com a observação e capacidade para copiar. Já a Releitura implica em produzir aquilo que se entendeu da obra, sem preocupações com semelhanças. É o sentimento se aliando à observação na produção de um trabalho." Nós que somos artífices da nossa própria vida devemos produzir de forma crítica os traços oferecidos por todos os setores sociais, e a partir disso decidir se os incluímos ou não em nosso modo de viver.
O próprio verbo reler de trás para frente é igual, é reler pra cá... Reler pra lá... Como tem duas vias, o ato de reler também. Faz bem para o próprio indivíduo reler o mundo em sua vida, como também para a sociedade que ele a releia, pois além de criar seres pensantes, inovações acontecem que acrescentam ao coletivo, melhoram a Obra em toda a sua dimensão.
Finalizo com um trecho do poema de Gabriel Perissé ‘A releitura é ler de novo o que já é velho, encontrando novidades que só podem estar ocultas no que todo mundo viu, mas não percebeu. ’