sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Releitura da educação pública, por uma vestibulanda

   Após gastar 4 dias das minhas férias e um bocado de neurônios no vestibular da UFRGS, quero falar sobre a educação pública brasileira;ainda mais que hoje saiu o resultado do ENEM 2010.
  Um dos maiores motivos da grande procura das Universidades Federais, além de que elas são pagas pelo governo(ou seja,por nós), é também a qualidade de ensino que nelas são oferecidas. O Ensino Superior tem muito mais credibilidade quando é de uma federal,de modo que ele frequentemente desbanca as faculdades particulares. No entanto, como o principal problema da educação brasileira está na base, no deficitário Ensino público Fundamental e Médio, gerava-se um ciclo de desigualdade sócio-econômico: percebia-se que a maioria dos alunos que ingressavam na faculdade federal eram de escolas particulares,que podiam pagar faculdades privadas mas optavam pela qualidade das federais,do que de alunos de escolas públicas,que não faziam Ensino Superior por não terem recursos.
   Em vista de mudar as regras do jogo, o governo colocou as cotas para Ensino Público,de forma que de um curso com 50 vagas,8 são para alunos de escolas públicas,8 para negros,e as restantes para acesso universal. Essa solução tornou mais frequente o ingresso de alunos de escola pública,no entanto, gerou uma grande migração de alunos de escolas particulares para escolas públicas em busca de cotas, e não de qualidade de Ensino. O governo visava nessa migração tornar igual o ensino básico, mas a desigualdade persistiu,pois o ensino continuou precário, e os alunos que possuem recursos,além de contar com as cotas,investem em cursos preparatórios para o vestibular. Então, fica evidente que a educação pública brasileira só será efetivamente igual e digna quando o Ensino Básico Público acompanhar a credibilidade e qualidade das Universidades Federais,o que poderá tornar até mais justo o processo de seleção que não se baseará mais numa única prova,mas no rendimento da vida escolar do aluno.
   Fiz quatro tipo de processos de seleção este ano:o enem,e os vestibulares da UFRGS,de uma universidade particular conhecida,e de uma pequena faculdade. Sem dúvida,o vestibular mais dificil foi o da UFRGS. Um fator que percebi entre a Ufrgs e o Enem,é que na Ufrgs não tinha nenhuma questão do tipo 'assinale as incorretas',onde já no Enem haviam inúmeras dessas. Esse tipo de questão tem o objetivo de tirar o aluno pela desatenção,e não por quanto sabe da questão, o que mostra que a prova da Ufrgs,e de outras federais, realmente visam selecionar alunos que possuem conhecimento. O Enem busca promover igualdade social e regional com os tipos de questões,as quais selecionam mais alunos que dialoguem com o mundo do que aqueles que simplesmente têm o conteúdo do Ensino Médio,e por isso algumas universidades federais estão o adotando como único meio de ingresso através do SISU. O problema não está na idéia do Enem,mas como ele tem sido feito: muitas questões extensas,com pouco tempo para fazê-las,e os erros na formulação da prova que tiram a confiança dos alunos no Enem.
   Enfim, o Brasil vive um progresso econômico,mas a educação não acompanha, o que nos torna ainda países subdesenvolvidos. Mudanças estão acontecendo, com o Enem, as cotas, o Sistema de Seleção Unificado(SISU), que ainda são tentativas de acertar. Acertaremos quando o objetivo da reforma educacional não for só combater a desigualdade sócio-econômica,mas sim, quando o foco das mudanças for a promoção da dignidade humana através da educação.
  Bom,depois de tanta prova, é hora de largar o lápis,arregassar as mangas e trabalhar.

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